O Sena não só testemunhou amores como os dos personagens do escritor argentino mais parisiense — Cortázar viveu na capital francesa por 33 anos, de 1951 até sua morte em 1984 —, mas também de invasões, revoluções e massacres.
Desde suas nascentes na Borgonha até sua foz no Canal da Mancha, o rio Sena percorre quase 780 km, passando por cidades como Rouen e chegando ao seu término próximo a Le Havre.
No entanto, é impossível imaginar Paris sem o Sena, nem o Sena sem Paris. A interdependência do rio e da cidade foi moldada ao longo dos anos, tornando Paris o berço da monarquia francesa e da expansão da França como Estado-nação. Hoje, o famoso rio, que ao longo de sua história viu a construção da Catedral de Notre Dame e da Torre Eiffel, que testemunhou os exércitos de Napoleão e as tropas do exército francês desfilarem em tanques para libertar a Cidade Luz das sombras do nazismo, tornou-se uma peça central nos Jogos Olímpicos realizados na capital francesa.
Aqui, apresentamos três fatos fascinantes para mergulhar no coração de um dos grandes rios históricos da Europa, que será o palco da cerimônia de abertura dos Jogos e de algumas competições.
- ‘Fluctuat nec mergitur’: Símbolo de Resistência
Após os ataques a Paris em 13 de novembro de 2015, quando um grupo de militantes do autoproclamado Estado Islâmico aterrorizou a capital francesa e matou 130 pessoas, uma frase em latim apareceu escrita em grandes caracteres em várias partes da cidade: fluctuat nec mergitur.
Até então, poucos fora da capital francesa conheciam o lema de Paris, que significa “É sacudida pelas ondas, mas não afunda” e que aparece em seu escudo ao lado de um veleiro navegando nas ondas do rio.
Diante da tragédia, os parisienses se apegaram ao emblema da cidade, que simboliza sua resistência diante da adversidade: Paris atacada, golpeada, profanada e ferida em sua essência, mas Paris resiliente.
- Uma Fonte de Inspiração para as Artes
Os parisienses gostam de dizer que a Champs-Élysées é a avenida mais bonita do mundo. No entanto, a “avenida” mais bonita de Paris é, sem dúvida, o Sena.
Grande parte do esplendor arquitetônico, cultural e histórico da capital está concentrado às suas margens, o que inspirou escritores, artistas e músicos.
Uma caminhada pelas docas ou em um dos famosos bateaux-mouches, os barcos turísticos que navegam por suas águas, pode transportá-lo da Paris medieval da Catedral de Notre Dame até a futurista Paris do Seine Musicale, passando pela belle époque da Torre Eiffel.
A cultura, com o Museu do Louvre, o Museu d’Orsay, o Palais de Tokyo, a Academia Francesa, o Grand Palais e seu irmão mais novo, o Petit Palais, estão situados às margens do rio.
- Seu Lado Mais Sombrio
Porém, sob a beleza que se eleva acima da superfície, também se esconde um lado sombrio, sujo e, às vezes, criminoso.
O Sena e seus canais se tornam a cova aquática de dezenas de pessoas todos os anos — entre 50 e 60, de acordo com a agência AFP — devido a suicídio, assassinato ou acidentes, embora, na maioria dos casos, segundo a polícia francesa, seja devido ao álcool.
Uma dessas vítimas, uma adolescente de 16 anos que nunca foi identificada, ajudou a salvar milhões de vidas.
A “Garota Desconhecida do Sena” ou “Mona Lisa do Sena”, como a jovem ficou conhecida, se afogou em suas águas no final do século 19.
Seu rosto sereno com um sorriso enigmático chamou a atenção e se tornou o objeto de uma máscara mortuária.
Essa máscara se tornou popular e foi produzida em massa, acabando nas oficinas e nas casas de muitos artistas e escritores, como Rilke, Louis Aragon, Man Ray e Vladimir Nabokov.
fonte:bbc.com