O vice-prefeito de Markham e ex-ministro do governo de Ontário, Michael Chan, celebrou o 75º aniversário da fundação da China sob regime comunista durante um discurso proferido em 29 de setembro. No evento, que ocorreu em Toronto e contou com a presença do cônsul-geral interino da China, Cheng Hongbo, Chan elogiou os principais aspectos da política do líder Xi Jinping e a administração do Partido Comunista Chinês (PCCh) sobre a China.
Em sua fala, Chan afirmou que o PCCh transformou a China em uma nação poderosa e que, sob seu comando, não houve massacres na China.
“Desde a fundação da Nova China, comprometida com a reforma e a abertura, a China alcançou realizações significativas em diversos setores ao longo dos últimos 75 anos, estabelecendo-se como uma grande potência”, disse Chan em mandarim.
“Nova China” é um termo utilizado pelo PCCh para se referir à criação da República Popular da China (RPC).
O PCCh consolidou seu controle sobre a China em 1949, com o líder fundador Mao Zedong proclamando o dia 1º de outubro daquele ano como o dia da criação da República Popular.
Chan também mencionou os pontos principais da política do PCCh com o intuito de fortalecer o país.
“Desde a marcha em direção à ciência até a ciência e tecnologia como força produtiva primordial, a China se tornou gradualmente uma potência tecnológica. Sob a ‘Iniciativa Cinturão e Rota’, a China abriu as portas para a economia de mercado, ingressou na Organização Mundial do Comércio e viu seu volume de comércio saltar para as primeiras posições globais”, destacou.
A Iniciativa Cinturão e Rota é considerada uma “pedra angular” do plano de Xi Jinping para a supremacia da China como potência regional e global, conforme um relatório do Serviço de Inteligência de Segurança Canadense (CSIS). O documento também menciona o peso da dívida que a iniciativa impõe aos países em desenvolvimento, que se tornam devedores da China quando não conseguem saldar os empréstimos. Além disso, o relatório ressalta que, em contraste com a visão do ex-líder Deng Xiaoping, que acreditava que a China deveria manter um perfil discreto e aguardar seu momento, Xi, desde que assumiu a liderança em 2012, tem falado abertamente sobre suas ambições de tornar a China uma potência central até 2049.
Em relação à adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, vários estudos indicam que isso ocorreu à custa de déficits comerciais e perda de empregos para os países ocidentais, incluindo o Canadá.
Um relatório de 2021 do Conselho de Relações Exteriores indica que, embora Pequim tenha se beneficiado das vantagens da filiação à OMC para aumentar suas exportações, isso gerou descontentamento em países como os Estados Unidos, que acusam a China de desrespeitar as regras ao manter seus próprios mercados fechados para produtos estrangeiros.
O documento ainda menciona que a entrada da China na OMC custou aos Estados Unidos 2,4 milhões de empregos até 2011. Uma tendência semelhante foi observada no Canadá, com um relatório do Centre for the Study of Living Standards indicando que o país perdeu entre 150.000 e 170.000 empregos entre 2001 e 2011 em razão do aumento das importações chinesas.
Chan não respondeu às solicitações de comentários.
Governo do PCCh
Durante sua fala, Chan aludiu às Guerras do Ópio do século XIX entre a China, sob o governo da dinastia Qing, e as potências ocidentais, além das concessões que a China teve que aceitar como resultado dessas guerras. Ele também mencionou a invasão japonesa e o Massacre de Nanjing de 1937, quando tropas japonesas assassinaram centenas de milhares de civis na então capital sob o governo do Partido Nacionalista.
Chan destacou que, ao olhar para os últimos 75 anos da RPC, a China passou “do nada para se tornar uma nação forte”.
Ele expressou o desejo de que Canadá e China “respeitem um ao outro, avancem juntos e alcancem uma cooperação benéfica para todos”.
Os líderes ocidentais e a cúpula da OTAN, da qual o Canadá faz parte, têm frequentemente manifestado preocupações em relação às agressões da China no cenário internacional.
“A China está demonstrando ao mundo que não acredita na liberdade de navegação e que desrespeita as leis marítimas internacionais”, afirmou o almirante Peter Bauer, presidente do Comitê Militar da OTAN, em um discurso no dia 11 de setembro. Seus comentários foram uma reação aos navios da guarda costeira chinesa que colidiram “intencionalmente” com embarcações filipinas no Mar do Sul da China durante o verão.
As forças chinesas também realizaram manobras agressivas contra as forças armadas canadenses, incluindo interceptações perigosas de jatos e navios canadenses em águas internacionais no Pacífico nos últimos anos.
Chega de “massacres e opressões”
Em seu discurso, Chan afirmou que, com o PCCh no comando, “não haverá mais massacres e opressões nesta terra”.
O assassinato de milhares de manifestantes estudantes pró-democracia pelas forças do PCCh em Pequim em 1989 é amplamente conhecido como o Massacre da Praça Tiananmen.
Um relatório do Hudson Institute, baseado em Washington, observa que nenhum país na história moderna registrou mais mortes não naturais do que a China sob o PCCh. Isso inclui a morte de até cerca de 50 milhões de chineses durante a fome de 1959-1969, decorrente do Grande Salto Adiante de Mao, além de dezenas de milhões de mortes em outras campanhas.
Organizações de direitos humanos frequentemente apontam a China como o principal violador dos direitos de minorias religiosas e outros grupos.
Um tribunal independente em Londres, presidido por Sir Geoffrey Nice, que anteriormente liderou a acusação contra o ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic no Tribunal Penal Internacional, concluiu em 2019 que a China realiza a retirada forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong “em uma escala significativa”.
A Câmara dos Comuns do Canadá aprovou uma resolução em 2021 reconhecendo a perseguição aos muçulmanos uigures na China como genocídio.
Além disso, a China mantém sua repressão em larga escala a cristãos, tibetanos e ativistas pró-democracia tanto na China continental quanto em Hong Kong.
Governos ocidentais, incluindo o Canadá, frequentemente expressam sua preocupação e condenação em relação à repressão das liberdades em Hong Kong, especialmente com a implementação de novas leis e a supressão de ativistas democráticos no país.
Em comícios anteriores e entrevistas à imprensa, Chan criticou os manifestantes pró-democracia e elogiou a resposta da polícia de Hong Kong durante os protestos.
Um relatório de 2015 do Globe and Mail indicou que Chan foi alvo de um aviso do CSIS ao governo de Ontário em 2010, por receios de que estivesse sob a influência da China. Chan processou o Globe por conta dessa reportagem.
Em um novo relatório de 2023 do Globe, citando fontes de inteligência, foi mencionado que o primeiro-ministro Justin Trudeau e seus assessores seniores foram orientados a serem cautelosos ao lidar com Chan, devido a seus “supostos vínculos” com o consulado chinês em Toronto.
O relatório também revelou que, em 2019, Chan foi visto se reunindo com o diplomata chinês Zhao Wei. Em maio de 2023, Zhao foi declarado persona non grata por ter atacado o deputado conservador Michael Chong devido à sua franqueza em relação às violações dos direitos humanos da China.
Esses pontos foram discutidos na Comissão de Interferência Estrangeira em Ottawa em abril, quando Chan compareceu para testemunhar. Ele declarou que Zhao estava presente apenas enquanto ele se encontrava com o cônsul-geral da China em Toronto, relacionado a um projeto comercial que desenvolvia no Camboja na época, e que não sabia que Zhao estaria lá.
Em resposta à reportagem de 2023 do Globe, Chan afirmou à publicação: “A própria declaração de vocês sobre um briefing recente do CSIS ao primeiro-ministro Trudeau serve apenas para incitar a xenofobia e causar danos contínuos, injustificados e irreparáveis à minha reputação e à segurança da minha família”.
Chan foi deputado liberal de 2007 a 2018 e ocupou diversos cargos ministeriais enquanto seu partido estava no governo, incluindo os de ministro da cidadania, imigração e comércio internacional; ministro do turismo, cultura e esporte; e ministro da receita.
Após sua saída da política provincial, ele se candidatou ao conselho municipal de Markham em 2022, conquistando uma cadeira e assumindo o cargo de vice-prefeito.
fonte:epochtimesbrasil