De acordo com o relatório preliminar divulgado nesta sexta-feira (6/9) pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB), os pilotos da Voepass discutiram uma falha no sistema de “de-icing” — que previne a formação e o acúmulo de gelo nas asas — durante o voo. A análise do áudio do gravador de voz da cabine mostrou que o co-piloto mencionou “bastante gelo”.
O relatório também revelou que o sistema de “airframe de-icing” — projetado para evitar o acúmulo de gelo nas asas — foi ligado e desligado várias vezes durante o voo. “Existiram duas menções aos problemas no sistema de airframe. Na primeira, o piloto mencionou uma falha, e em outro momento, o co-piloto comentou: ‘Bastante gelo'”, explicou o tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes, encarregado da investigação.
O Cenipa destacou que, no momento do voo, havia alta umidade combinada com temperaturas abaixo de 0°C, criando condições favoráveis à formação severa de gelo desde o centro-norte do Paraná até São Paulo.
O acidente ocorreu no dia 9 de agosto, em Vinhedo (SP), resultando na morte das 62 pessoas a bordo, incluindo quatro tripulantes e 58 passageiros.
Condições Meteorológicas e Fatores Contribuintes
Os investigadores afirmaram que a aeronave estava em condições operacionais adequadas para voar em condições de gelo e que a manutenção estava em dia. O piloto, o co-piloto e os demais membros da tripulação possuíam as qualificações e a experiência necessárias para esse tipo de voo. Nenhuma emergência foi declarada aos órgãos de controle de tráfego aéreo ou a outras aeronaves próximas.
Além disso, as informações meteorológicas disponíveis antes da decolagem já indicavam a possibilidade de formação de gelo severo na rota.
“É importante ressaltar que não há um único fator responsável pelo acidente, mas sim uma combinação de fatores contribuintes. No caso da aeronave da Voepass, o controle da aeronave foi perdido em condições favoráveis à formação de gelo, mas não houve declaração de emergência ou relatório de condições meteorológicas adversas”, esclareceu o tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes.
O Cenipa acrescentou que a aeronave envolvida estava registrada na Categoria de Transporte Aéreo Público Regular (TPR), e era certificada e equipada para operar em condições adversas, incluindo formação de gelo.
Próximas Etapas da Investigação
A investigação seguirá três linhas principais: fator humano, para avaliar o desempenho da tripulação; fator material, para verificar a condição de aeronavegabilidade, com foco nos sistemas anti-icing e de-icing; e fator operacional, para analisar os elementos do ambiente operacional que podem ter contribuído para o acidente.
“O relatório final será elaborado o mais rapidamente possível, dependendo da complexidade do caso e da necessidade de identificar possíveis fatores contribuintes”, afirmou o brigadeiro do ar Marcelo Moreno, chefe do Cenipa.
O voo 2283, operado por uma aeronave ATR 72, partiu de Cascavel (PR) às 11h58 com destino ao Aeroporto de Guarulhos. O voo estava normal até as 13h20, quando a aeronave deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP). A perda de contato com o radar ocorreu às 13h21, e o impacto com o solo aconteceu às 13h22.
O Cenipa destacou que suas investigações “não visam atribuir culpa ou responsabilização, conforme o Decreto nº 9.540/2018, mas sim identificar possíveis fatores contribuintes para elucidar questões técnicas relacionadas ao acidente”.
fonte:agenciabrasil