O delegado Paulo Gondim, de 45 anos, é o responsável pela operação que solicitou a prisão de duas figuras proeminentes do entretenimento brasileiro: a influenciadora Deolane Bezerra e o cantor Gusttavo Lima. Ambos são acusados de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro ligado a jogos ilegais. Desde 2008, Gondim integra a Polícia Civil de Pernambuco e, nos últimos anos, tem se concentrado em investigações sobre lavagem de dinheiro.
Raramente ativo nas redes sociais, Gondim tem evitado falar sobre a Operação Integration, que tem Deolane e Gusttavo como alvos. Com mais de 15 anos de experiência, ele já liderou investigações em áreas que vão do tráfico de drogas à corrupção em administrações municipais.
Nos últimos tempos, seu foco tem sido a identificação de lavagem de dinheiro, que ocorre quando se tenta dar uma aparência legal a recursos obtidos de maneira ilícita. Em agosto de 2022, coordenou a Operação Cartada Final, baseada em uma investigação sobre a lavagem de dinheiro de extorsões cometidas por presos.
Semente da investigação
No ano anterior, Gondim esteve à frente da Operação Placement, que investigou a lavagem de dinheiro relacionada ao jogo do bicho em Pernambuco. Essa operação foi o ponto de partida para uma investigação mais abrangente que alcançou celebridades. Na operação de 2023, os alvos eram diversas bancas de jogo do bicho na região de Recife. Entre as empresas investigadas estava a Caminho da Sorte, do empresário Darwin Henrique da Silva, cuja defesa nega qualquer vínculo com atividades ilegais.
Durante uma ação no ano passado, as equipes policiais encontraram um caderno com registros financeiros da empresa Esportes da Sorte, um grande operador de apostas esportivas, ligada a Darwin Henrique da Silva Filho, filho do proprietário da Caminho da Sorte. Ambos negam qualquer relação entre as empresas.
Diante da conexão suspeita entre o jogo do bicho e apostas esportivas, o delegado solicitou a quebra de sigilos de várias empresas associadas à Esportes da Sorte, identificando movimentações suspeitas relacionadas à lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, que acabaram ligando a investigação a Deolane Bezerra e Gusttavo Lima.
Controvérsias e reações
Em um artigo de 2019 para um curso de pós-graduação em investigação, Gondim argumentou que a presunção de inocência não deve impedir a decretação de prisões processuais antes do julgamento. Isso se aplicou ao caso de Deolane, que ficou cerca de 20 dias presa preventivamente. A prisão de Gusttavo Lima foi suspensa por um desembargador um dia após sua emissão.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) mostrou-se cauteloso em relação à investigação de Gondim, não aceitando a denúncia inicial e pedindo mais diligências. No entanto, a juíza de primeira instância Andrea Calado decidiu manter as prisões, apesar do parecer contrário do MPPE, que considerou “breve e carente de argumentos”.
Advogados dos envolvidos na Operação Integration afirmam que Gondim cometeu erros e demonstrou falta de conhecimento sobre o funcionamento das apostas. Reclamações contra sua conduta foram apresentadas na Corregedoria da Polícia Civil, e protestos ocorreram na frente de sua delegacia.
Após ser solta, Deolane acusou Gondim de “abuso de autoridade”, enquanto a Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco repudiou suas afirmações.
Nova Lava Jato?
Durante uma coletiva sobre a Operação Integration, o coordenador de planejamento da Polícia Civil de Pernambuco, Romano Costa, defendeu Gondim nas redes sociais, elogiando a investigação e comparando-a à operação Lava Jato, que levou à prisão de diversas figuras importantes.
A reportagem do Metrópoles tentou contato com Paulo Gondim, que optou por não conceder entrevistas no momento. Tentativas de contato com o presidente da OAB e o delegado Romano também não obtiveram resposta.
fonte:metrópoles